Wednesday, March 13, 2013

QUERIDO ZAMBUJO









Braga, 11 de Novembro de 2012

Ontem, a noite transformou-se em divagações emprestadas aos poemas que a tua voz cristalina devolveu ao público naquele teatro, como dizias, magnífico. Gosto de voltar ali. Gosto de regressar aos momentos em que a música me leva a estados de consciência, de perspectiva, que não vou buscar a mais lado nenhum. Mas ontem, Zambujo, ontem a tua simplicidade passou da certeza de um serão bem passado, à surpresa de perceber que afinal estávamos todos a ser levados na tua cantiga.
Quando disseste que havíamos de nos encontrar em qualquer esquina da cidade, bêbedos, tive curiosidade. Eu, e cada um de nós, sentados naquelas cadeiras, sabendo, ao mesmo tempo, que era para cada um e não era para ninguém.
Por isso, peguei em tudo o que me fizeste sentir e fui. Roubei-te a simplicidade e a pureza dos sentimentos, mas não bati a cidade; transplantei-os para o meio da serra, para o raro privilégio de ver o dia a nascer, de ver as silhuetas das serras tomarem forma e cor. Salpicadas de branco, reluzentes na luz ténue da manhã. Simples pureza. Como nas tuas cantigas.
Só assim tudo fez sentido. Na verdade, nem te queria conhecer. Não é por desprezo. É só porque, egoísta como sou, quis roubar-te o sentimento e transformá-lo numa coisa só minha.

No comments: