TROQUEI O MINHO PELO LÉMAN

Troquei o Minho pelas encostas do Lago Léman. O Gerês pelos Alpes. O cheiro da maresia pelas águas doces do lago. Os fins-de-semana cheios de escuteiros por caminhadas nas montanhas, escalada e planos que agora nos entretemos a fazer, ao nosso sabor e vontade. A dois.

Acabaram-se as despedidas horríveis no aeroporto, o namoro só das férias, as longas conversas por chat e hangout e skype. A distância dos 1800km e a da tecnologia que nos permitia remediar a situação. Acabaram-se as conversas em que ficava tudo por dizer, a informação que se perdia, os momentos do dia que não se conseguiam partilhar em minutos de ligação à rede. Acabaram-se os pequenos-almoços solitários ao fim-de-semana, e as refeições cozinhadas só para mim. A falta de inspiração que vinha com a falta de companhia. Acabaram-se os meses a remoer, a empacotar, a despedir, a ansiar que o momento chegasse. Chegou outro momento da vida.

Terei saudades. Sentirei a falta de ter os amigos por perto. Terei vontade de comer a sopa da minha avó. Verei escuteiros em actividade e sentirei a ausência daquela dinâmica na minha vida. Apetecer-me-á sair à rua de manhã e tomar o pequeno-almoço no café e ler o jornal em português. E já sinto falta do nosso café.

Mas para já ainda tenho de me esforçar para listar aquilo de que tenho saudades, porque ainda estou a matar as saudades acumuladas ao longo dos anos. A aproveitar a companhia. As conversas. As partilhas. Os silêncios confortáveis. Ainda estamos a construir, a planear, a desenhar a nossa vida aqui. A nossa casa. Os nossos trabalhos. E eu a encontrar o meu lugar.