PROCESSO

Olhas para um lado, olhas para o outro. O cursor a piscar. Piscas os olhos, abres outra janela, distrais-te. O tempo passa, não dás conta. Arranjas desculpas. Para as desculpas, arranjas estratégias. Procuras o foco, encontras, mais uma janela temporal que aproveitas. Distrais-te. Dormes demais e acordas mais tarde que o previsto. Doem-te as costas. Está muito silêncio. Está muito calor, está muito vento, está muito abafado. Alongas os músculos. Andas a pé para espairecer. Adormeces a pensar. Vais para o duche e pensas. Escrevinhas modelos na porta de vidro. Tens milhentos modelos dentro da cabeça, milhentas ideias e as relações entre elas. Mas quando te sentas, o cursor pisca para ti e tu piscas de volta. Vais fazer uma chávena de chá. O chá faz-te ir à casa de banho. Liga um amigo, adias os planos. Panicas. Escreves. Precisas de férias, anseias o ar que se respira na praia, na montanha, em todos os sítios menos aqui, nesta sala, nesta cadeira. Mas escreves. Adormeces a pensar, acordas a meio da noite a pensar. Desistes de dormir e escreves. E começas a ver as coisas a tomar forma nas folhas, as ideias encadeiam-se umas nas outras e, mesmo que o tempo seja curto, estás a curtir ver isso acontecer. Porque, se o tempo não fosse curto, se calhar ainda não era tempo de o ser.

Isto só para dizer (remind myself) que, apesar da doudeira que aqui vai (ou por causa dela?), life is good.