Monday, February 17, 2014

GRATITUDE


Sinto a falta do sol, tanto como sinto a falta de dias activos, enérgicos, atarefados, intensos. Sinto-me lenta, sem ritmo, a arrastar. Sinto a falta de acordar de manhã e de ter pressa para sair, de ter horas marcadas, de ter as rotinas de que toda a gente se queixa. De sentir o ar fresco na cara, a caminho de algum lado, apressada. Sinto a falta de caminhadas ao ar livre, de férias com cheiro a maresia, de andar de mochila às costas, de escalar. De fazer viagens de comboio, cruzando-me com milhares de pessoas. De correrias. Por muito surreal que pareça, é difícil trabalhar em casa e contrariar a tendência para hibernar, para não socializar, para nos fecharmos sobre nós mesmos. Queixo-me. Ponho as culpas da minha improdutividade neste ritmo.

Mas depois, olho para as pilhas de artigos por ler, para as linhas por escrever e sinto um estranho contentamento. Porque está a chover lá fora, e eu tenho uma manta e um gato no colo, um aquecedor por perto, uma chávena de chá em cima da mesa, e posso envolver-me de música. Posso vestir umas calças polares quentinhas, posso trabalhar de pantufas. Posso comer o que me apetece, e posso tricotar quando preciso de aliviar a cabeça. Posso fazer yoga no chão da sala quando me doem as costas. Se tivesse de escolher novamente, não escolheria outro sítio do mundo para ler os meus artigos, para escrever as minhas palavras.

Um dia vou ter saudades de trabalhar assim. Mesmo sabendo que não quero trabalhar para sempre assim.


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