Tuesday, August 26, 2014

JAM DOUGHNUT

http://mynameisyeh.com/mynameisyeh/2013/10/recipe-easiest-sufganiyot-ever

Não tenho comido açúcar. Desde que acabou o meu chocolate preferido não tenho tido grande apetite para outros doces. Mais valia já ter começado o desafio de não comer açúcar durante um mês que tenho na lista, tal é a falta de vontade de doçaria.

No fim-de-semana fui à praia. Às 14h passou a vendedora de Bolas de Berlim. Às 14h ninguém tem vontade de comer Bolas de Berlim, mas o pregão fica no ouvido, e a memória, sorrateira, encarrega-se de o lembrar a meio da tarde, despertada pelas várias passagens da sineta do vendedor de gelados, a quem acabamos por ceder quando nos diz que a vendedora de Bolas de Berlim não regressa até às 14h do dia seguinte. Comi um Corneto de Limão. Mas fiquei a pensar nas Bolas de Berlim.

Bo-las. De. Ber-lim. Quero Bolas de Berlim! Mas que obsessão é esta com Bolas de Berlim? Será de ver fotos de pessoas a comê-las na praia? Nunca tive esse hábito, nem me lembro sequer de comer bolas na praia quando era criança. Gosto de Bolas de Berlim, não haja dúvida (então se forem as do Natário...). Mas nada que justifique querer tanto uma coisa tão doce e enjoativa agora, que nem sequer tenho tido grande vontade de comer doces.

Mas hoje, ao olhar para umas Bolas de Berlim no café, com o seu creme amarelo artificial e a sua massa meia ressequida e carregada de açúcar, acertou-me. Não é isto que eu quero! O que eu quero, o que eu ando a ougar há dias, meses, anos até, são Jam Doughnuts.

Até ir viver para Inglaterra, quando era pequena, Donuts para mim não tinham u, g e h. Vinham em embalagens de plástico e tinham um buraquinho no meio. Curiosamente, depois de regressar, vim com uma adoração por Donuts que nunca percebi, até que hoje, por uma epifania qualquer, juntei as peças do puzzle. Na escola, comia Donuts e lambia os dedos e o guardanapo no fim. Ainda hoje.

Mas o que eu quero mesmo, mesmo, são Jam Doughnuts.

Daqueles iguais aos da padaria da Magdalen Road, que vinham ainda quentinhos como bónus de uma loaf of bread que o meu pai comprava a caminho do parque. Não sei se era sempre assim o ritual, não me lembro bem do contexto. Mas lembro-me da padaria, e lembro-me do parque, que ficava perto e onde brincávamos quase todos os fins-de-semana. Consigo traçar o percurso mental, de casa até lá e de lá até ao parque. E lembro-me dos Jam Doughnuts.

Comia os Jam Doughnuts como se de uma coisa muito preciosa e rara se tratasse. Primeiro, cheirava-os. Inaugurava-os com uma trinca, em que sentia a crosta açucarada e mais dura do Doughnut, acompanhada pelo seu interior fofo e com um travo a massa fermentada. Depois o Jam, que invariavelmente se soltava - e aqui estou a tentar encontrar uma tradução para oozed, que é bem mais representativo - e escorregava pelos dedos, pelo queixo, ou pelo saco de papel da padaria. Comia devagar e, no fim, ficava com vontade de comer outro.

Essa vontade de comer outro parece ter transposto décadas (décadas? décadas!!), arrastando-se por desejos de substitutos menos dignos, até hoje se consolidar na certeza de que o que eu quero, mesmo, mesmo é um Jam Doughnut, fresquinho, com um travo a massa fermentada e Jam que chegue para deslizar pelos dedos.

Oh, o que eu daria por um Jam Doughnut.

*E não, não fui eu que fiz os da imagem. Continuo aqui a ougar Jam Douhgnuts, porque os créditos da imagem são daqui.

2 comments:

ana said...

adoro este tipo de memórias de sabor, tão tão boas. quase que sinto os meus dentes trincar o açúcar!

ps - não me queres mandar a tua morada? :D

Joana Maria said...

:)

eu ando tão desejosa que até quase os consigo cheirar!

mando-te por e-mail a morada, pode ser? :)