Friday, November 13, 2015

O PRATO DO DIA #5

É verdade. Voltámos à comida. É preciso ter lata, eu sei.
Inicialmente este blog era dedicado apenas às minhas experiências culinárias, mas eu não consigo a) ser uma verdadeira blogger - sou demasiado baldas; b) tirar fotos bonitas da comida que faço para que muita gente queira cozinhar o mesmo depois; c) falar só sobre uma coisa.

Não faz mal. Eu gosto de registar as coisas que cozinho, porque assim também vou guardando as receitas. Tendo um caderno de receitas meu - que é muito bonito e onde eu escrevo sempre com a mesma caneta preta e com letra bonitinha - não consigo não ter sempre cinquenta papelinhos com anotações sempre que experimento receitas novas. Esses papelinhos andam sempre dentro do caderno de receitas, eternamente à espera que eu me dedique a passá-las a limpo.

Por isso, quando escrevo aqui sobre comida, não é com pretensões de ser a bilionésima food blogger out there. É para eu registar, e para partilhar com quem tenha apetite. É para ser o meu livro de receitas, o meu caderno de anotações. Não se esperem fotografias bonitas aqui. Ou, pelo menos, posso tentar tirar fotografias bonitas, mas saiba-se que procuro a beleza na comida que faço todos os dias, e não tenho o hábito nem de empratar, nem de encenar a comida que faço, sobretudo quando essa janela temporal é sempre proporcionalmente inversa ao buraco que tenho na barriga.


Há uns quantos blogs de comida aí fora que eu leio há muito tempo e com muita devoção. [A seu tempo, partilho-os todos.] São blogs simples, escritos por pessoas simples, que apreciam genuinamente cozinhar, mas que cozinham para si, para os seus, com amor aos ingredientes e à maneira como os juntam e os trabalham para trazer o conforto, o aconchego, o fascínio, a admiração. Nas suas fotografias, temos direito a um glimpse, um estímulo para a imaginação do potencial que a comida tem para nos preencher, sem pretensão de ser uma obra de arte ou uma foto de revista. São essas as receitas que eu quero cozinhar e são essas as receitas que me saem sempre bem. São as suas histórias e a forma como a comida está tão entranhada na sua vida que me inspiram.

Hoje partilho uma receita para lentilhas estufadas da Rachel Roddy, que é uma das minhas musas. Adoro as suas fotos, muitas vezes tiradas na banca da cozinha, ou em cima da mesa, um instantinho antes de serem comidas. Gosto ainda mais do facto de ela explorar a comida italiana a partir dos seus ingredientes e tradições originais. Relembra-me muitas vezes a nossa cozinha portuguesa, tão tradicional, tão enraizada nos nossos ingredientes, nos nossos costumes, nas histórias das nossas famílias.


Não vou transcrever a receita das lentilhas, porque ela é muito simples e está muito bem explicada nesta coluna do Guardian. Fique-se só a saber que não costumo usar aipo no refogado, mas decidi experimentar e gostei muito. É o soffrito verdadeiro Italiano. No primeiro dia comi as lentilhas com arroz. No segundo dia, cozi as massinhas pequeninas e juntei-às às lentilhas, com um soft-boiled egg. No terceiro dia (e quando tirei esta foto, que elegância), reaqueci tudo e juntei um ovo escalfado.
Pode parecer aborrecido comer a mesma coisa durante 3 dias seguidos, mas quando é bem conseguida cai bem, e como diz a Rachel, não ter de cozinhar às vezes é tão bom como cozinhar.

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